O cego olhou no seu espelho.
O que espero? Ver a mim como se fosse outro? Enxergar o que não quero ver? Ou simplesmente sorrir ao ver as expressões batidas e desgastadas que o meu amigo tempo me proporcionou?
Metade da vida já estava vencida e a outra metade,
totalmente incerta se conseguiria batalhar contra os seus demônios e chegar até
o outro lado do lago, que parecia muito distante.
O cego olhou os seus sapatos.
O que espero? Amarrar
os meus cadarços como se os do outro fosse sem importância? Desconstruir o meu
nó com apenas um dedo? Falar aos meus pés para se descalçarem sozinhos? Ou
jogar fora o antigo par e sentir na pele o calor do meu deserto?
Encontrava-se sem lembranças, heranças ou herdeiros. Sem
amor, outro olhar ou acompanhado. O que lhe restava além de se refletir?
O cego fitou sua janela.
O que espero? Pássaros
alegres, um céu imensamente azul temperado com algumas nuvens brancas? Árvores
cheias de vida, risadas inocentes de crianças, rios e lagos intactos? Ou
simplesmente a realidade do cenário poluído, árvores mortas, choros extremos de
crianças e rios e lagos poluídos?
Falava com sua solidão. Apertava a mão da sua tristeza.
Abraçava com amor e carinho seu desespero.
O cego olhou o seu relógio.
Estava esperançoso pelo seu iminente fim. Estava bravo com o
seu atraso.
O cego se foi. Não deixou inimigos, amigos ou amores.
Simplesmente esperou chegar o final suspiro. Assim, o cego deixou de ver o que
não precisava ver.
Agora há brilho em seus olhos.




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